
Crônicas do Silêncio e Desapego
Uma trilogia produzida em parceria com a Muiraquitã Produtora Independente e o Coletivo Movimento Poético em Cena para o "Festival Te Aquieta em Casa" da Secretaria de Cultura do Estado do Pará - SECULT. Do primeiro ao terceiro capítulo da série apresento respectivamente os poemas "Desapego", “O silêncio que precede a chuva” e “A luz no teu silêncio”, obras inéditas retiradas da coletânea "Crônicas do Silêncio e Desapego", meu acervo pessoal de poemas não publicados. o Festival Te Aquieta em Casa da SECULT é um edital de incentivo à cultura criado de forma emergencial para auxiliar os artistas paraenses no período de quarentena causado pelo pela Pandemia da COVID-19. Deste modo, conteúdos digitais criados e publicados nas redes sociais estimularam a permanência do público em suas casas e a valorização dos artistas e da cultura regional do estado do Pará.
Capítulo 01: Desapego
.... à beira do rio que sopra, me esvazio, me entrego, me rendo, aprecio o vento doce que o rio sopra em mim, que me deixa leve, suave, num intenso e quente pôr do sol, que irradia, que sussurra pra mim, que me espera chegar, que me perdoa por esquecer, que me liberta, que me faz voar, no sopro do rio que corre, que escoa, que lava, eu não me pertenço, me abandono, eu não tenho dono, mas não sou livre, não por inteiro, pois eu sempre espero e esperar é apego.... eu não me reconheço, não me aceito, por isso sempre volto à beira do rio, venho me confessar, pedir perdão pela descrença, por ter mandado a poesia embora.... eu respiro e sinto que a vida pulsa, que os sonhos cintilam, que a chuva está chegando, não para encontrar o sol, mas para abraça-lo e dançar com ele, ser sua amante, sua seiva, seu amor.... então a chuva chega e eu danço, e canto e sonho e grito e danço, eu sou um estado de descoberta, eu anseio e sinto, e descubro e não sou livre e não tenho dono, mas o que tenho me basta e posso partilhar, eu divido e absorvo tudo, e danço e canto e escrevo, mas a arte que em mim habita não precisa mais das suas promessas, nem do seu romance grosseiro, eu espero, mas logo esqueço, simples assim, essa água não é choro, mas é chuva e essa luz não vem do sol, mas de mim, então eu dança e canto e sonho e realizo....
Capítulo 2: O Silêncio que Precede a Chuva
... não somos todos folha, nem somos todos vento, mas penso que todos entendemos o silêncio que precede a chuva e o calor que emana, até o cair da primeira gota, o silêncio é sempre gritante e o calor é sufocante, mas a chuva é libertadora, envolvente e tem poder de cura para todos aqueles que acreditam, não é medicinal, talvez alquímica, mas certamente espiritual, a chuva não é calor e nem silêncio, ela invade e cura sem deixar de ser suave, como toda a cura ela precisa ser absorvida, sentida, ela é imanente, potente, intensa, sem deixar de ser suave, então sinta-a, não se faz necessário entendê-la, mas se permita senti-la, pois ela é livre e incontrolável... na chuva os meus devaneios encontram vazão, na medida em que me permito inundar pelos afetos que não se cabe explicar, a água então escorre e me lava, me louva e me salva... ela é minha alegria quando cai sem avisar, causando bobos sorrisos e aquele desejo incontido de te abraçar... se a chuva te faz chorar pela ausência da minha poesia, saiba que na minha terra a chuva, enquanto cai, me conta histórias, me conforta e me acalma, de alguma forma ela me aproxima desse mundo que nós inventamos, quando a chuva cair sinta os afetos escorrendo no teu corpo, quando a chuva cair, Corra! Ela é o portal para o mundo que nós inventamos, nossa conexão mais profunda, um presente do universo para nossa espécie em extinção, corpos raros que choram ao ouvir o silêncio que precede a chuva....
Capítulo 3: A Luz no Teu silêncio
Lua? .... eu tentei de desenhar em tuas fases, sem inventar, sem fantasiar nada a teu respeito, são traços sinceros e simples, por favor, me perdoe por não saber desenhar, mas se o rabisco destas linhas não fazem justiça a tua beleza, me abandono a te escrever em versos que ouso chamar de poesia... Sou curioso por natureza, talvez um dia te pergunte algo sobre tuas fases e de como é passar por cada uma delas, mas duvido muito que sejam apenas quatro como ensinam os livros, duvido muito que a ciência te defina, talvez você não se permita definir, por isso nem me arrisco em tentar, mas é impossível não te imaginar, não te sonhar, te desejar ou esquecer, mais difícil ainda é não sentir tua falta, se te vejo despida e reluzente sobre o mar, serena e doce, sinto e confesso: te quero pra mim, mais do que as canções que fantasiam ao teu respeito lua, eu escrevo porque me afetas e sobre ti eu rabisco estas letras e imagino como seria te conhecer e te contar dos meus medos, dos meus sonhos e da minha vontade de te abraçar... quando és nova não te apresentas reluzente, mas não demonstra se é por tristeza ou timidez, te escondes na penumbra, aumenta minha curiosidade em ouvir teus pensamentos, pois quando é nova não te revelas facilmente, mas não deixa de encantar... quando és crescente se permite aparecer suavemente e ainda tímida deixa escapar alguma nuance em olhares contidos, um vislumbre de pensamento, talvez algum desejo ainda escondido começa a tomar forma, em tua fase crescente és suave e sutil o teu encanto... sem dúvida tua fase mais plena e deslumbrante é quando flutuas reluzente e intensa, intocável e irresistível, quando és lua cheia a humanidade te contempla extasiada e atônita, os romances se intensificam, os amantes se realizam, os corpos se encontram e os devaneios se perdem incontroláveis, quando és lua cheia todos querem te amar, nesta fase reinas soberana num céu cheia de estrelas, no entanto, nem de longe esta tua fase é a que mais me intriga, pois te vejo despida e plena sobre a janela, quando invades meu quarto com tua luz exuberante, noites a fora te observo, tentando absorver teus pensamentos eu ainda me perco, mas tua fase cheia não me intriga... quando és minguante novamente te percebo singela e tímida, revelas outros lados de ti, mas sem resplandecer totalmente o que sentes, o desejo que deixas refletir sobre a água dos rios e dos mares dão pistas de tuas paixões, teus medos, teus sonhos, teus amores, tuas dores das quais ainda quero cuidar, mas que no fundo, sinto que você ao mundo pertence, ele merece tua luz e teu encanto, teu testemunho e tua beleza desconcertante, de ti muito se inspiram músicos, poetas, pintores, amantes, saudades, amores, cientistas, cineastas, mas também as crianças, as flores e os peixes... teu ciclo lunar assim se completa, que ousadia minha escrever sobre tuas fases, eu sei que elas não te definem e como já havia dito tuas fases não me intrigam, na verdade minha atenção e curiosidade se volta para teu “lado obscuro” do qual não se descreve, do qual não ouvimos falar, neste sentido nem teu eclipse lunar me causa tanto devaneio e ansiedade... nos teus movimentos de rotação, revolução e translação existe um lado teu que a luz não toca, a este chamam de “lado obscuro da lua” e este é o que realmente me intriga, este lado que tu escondes do mundo, que talvez consideres impuro, feio e sem importância, este lado minha curiosidade desperta, este lado teu, por vezes deixa transparecer no teu silêncio, no teu olhar incontido... penso, ali existe um tesouro que você esconde, ou que guarda só para si mesma, talvez o mundo não mereça mesmo conhecer, talvez seja valioso demais, será que um dia você me falará sobre ele? Espero que sim, mas talvez eu também não mereça, então fico na esperança de tua gentileza em me contar, pois ainda sonho em te conhecer um dia, no mais te agradeço pela inspiração, pela paixão e pelas intensidades que me fazes sentir. Eu ainda te contemplo de dia e de noite, ainda me perco e reconheço, talvez sejas de mais para mim, talvez eu nem mereça mesmo, então me resta adormecer em tua presença, enquanto te observo distraído e sereno, pois quando invades meu quarto a noite, absorvo tua luz e encontro alguma paz dentro de mim, posso então descansar, posso suspirar e dormir, na esperança de pela graça acordar e me descobrir melhor por tua causa, por tua graça, por teu amor....
FICHA TÉCNICA
REALIZAÇÃO
Renan Rosário (Peixe)
POEMA/OBRA
Crônicas do Silêncio e Desapego
AUTOR
Peixe
PRODUÇÃO AUDIOVISUAL
Muiraquitã Produtora Independente
APOIO CULTURAL
Coletivo Movimento Poético em Cena
R.A Print's
PATROCÍNIO
Secretaria de Cultura do Estado do Pará - Secult
Governo do Estado do Pará
ESTE PROJETO FOI CONTEMPLADO COM O PRÊMIO DO FESTIVAL TE AQUIETA EM CASA 2020
ARTE GRÁFICA



